sábado, 6 de abril de 2013

Frigorífico natural


A Dona Angélica nasceu em Marvão.
Fez a primária na escola que esteve instalada ali para os lados do Calvário, na subida.
A mãe trabalhava na Santa Casa e ela ia muito para lá, e por isso aparece numa foto linda com as meninas da Santa Casa,  que eu usei como capa de caderno da Mercearia.
A Dona Angélica conhece toda a gente em Marvão, conhece muito sobre esta terra. E eu gosto quando ela me conta coisas porque aprendo muito.

No outro dia estávamos a falar da chatice que foi para mim ter uma nascente de água aqui na Mercearia. Ela diz que sim, que é verdade, as casas da rua do Espírito Santo, por estarem encostadas à rocha, em anos de muita chuva aparece a água nos rés-do-chão.
Há muitas casas em Marvão em que isso acontece.
Há que encaminhar a água para a rua, não há nada a fazer, a natureza manda e nós temos que respeitá-la, é mais forte do que nós.

Por causa deste facto contou-me uma coisa curiosa. O rés do chão das casas de Marvão serviam antigamente para guardar o animal, o burro, o meio de transporte. Para quem o tinha, claro.
Isto eu já sabia, é a chamada loja do piso térreo.
A Mercearia de Marvão está instalada numa "loja" de píso térreo.

O que ela me contou é que pelas nascentes de água e por estarem os rés do chão muitas vezes com rocha aflorada, também serviram deste sempre como "frigoríficos" quando estes não existiam.
É natural, são as divisões mais frescas, portanto onde os alimentos melhor se conservavam.
As coisas são simples, naturais, quando pensamos melhor nelas.

Tal como natural é a minha constipação. Eu passo horas dentro de um frigorífico natural...

1 comentário:

  1. A casa de família que tenho na Escusa é assim. Um piso térreo que era a "loja", a cozinha fria, gelada mesmo e duas salas que não fora a lareira enorme eram, de facto, "frigoríficos", o meu pai gostava de lá dormir a sesta por causa disso, naqueles Verões quentes que tivemos aí.

    Sempre que ia de férias gostava muito de privar com duas primas do meu pai que nos contavam histórias delas e de toda a aldeia desde crianças, moças do rancho, contrabandistas, adorava ouvi-las. Para mim, é um privilégio escutar estas pessoas, como a Dona Angélica.

    Boas conversas. bom fim de semana

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