domingo, 14 de abril de 2019

Marvão já não é para os que cá estão



Assisto nas notícias às reportagens sobre Lisboa e Porto em que falam da especulação imobiliária, que a classe média já não consegue viver no centro da capital e que o Alojamento Local mudou a face das grandes cidades. Ouço as notícias como algo de distante e que não nos diz respeito, como se de outro país se tratasse e as diferenças entre o litoral e o interior não deixassem cá chegar o "flagelo".
Mas não é bem assim.
Viver num centro histórico de uma vila do interior não é para todos. Faltam serviços, não existem casas modernas nem as comodidades contemporâneas. Não existem garagens ou elevadores, não há aquecimento central nem internet de alta velocidade. Mas quem escolhe viver aqui, pesa na balança a felicidade que trazem as vistas largas, a segurança,  tranquilidade e os bons dias dados aos vizinhos.
A autarquia faz a sua parte, promovendo o arrendamento dos imóveis municipais com rendas baixas, mas não controla bem as regras dos regulamentos que impõe, não simplifica nem promove  a reabilitação dos espaços,  nem dá valor a preocupações como o ordenamento do trânsito. Deixa andar...
Mas a sensação é que de facto, também aqui, Marvão já não é para os que cá estão. Somos cada vez menos. Perdem-se vizinhos e não nascem crianças...o turismo e o grande poder de compra absorvem as casas que estão à venda.
Colocar à venda uma casa por um preço especulado, afasta o português de classe média que se quer fixar. São as regras do mercado.
E depois vem o turista que quer conhecer a padaria tradicional, que pergunta se a escola ainda tem crianças ou que precisa comprar uma caixa de aspirinas e não há onde...já fechou...
É bom ter as fachadas limpas e pintadinhas de branco...claro que é, mas também importa promover a vida dentro dessas casas...
Transformam-se o sítios em museus despidos, desinteressantes, sem ninguém a circular nas ruas passadas as sete da tarde.
Uma boa experiência turística passa por sentir a vida das comunidades...ora se a comunidade já não existe, se os jovens que aqui nasceram tiveram que sair por não poderem cá comprar casa ou trabalhar, então é tudo falso, sem conteúdo, vazio.
Equilíbrio é a palavra chave. E se eu valorizo muito esse sentimento de pertença, se depende de mim resistir, fazer a minha parte no que toca a manter tradições, participar e prestar um serviço aos demais, ao mesmo tempo também gostaria de sentir que pertenço a uma comunidade onde há esperança e futuro. Hoje não é assim...veremos amanhã,  aliás...veremos o que nos reserva o amanhã.


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