Ralharam comigo porque tinha a porta fechada. Tinha ido lá a cima à Estalagem trocar a roupa nas máquinas e demorei-me mais da conta, afinal eles tinham vindo desde o Vale de Ródão até Marvão, só para vir à Mercearia.
Queriam uma pilha para o relógio da mesa de cabeceira.
Só posso vender as quatro, disse eu, que o pacote é assim.
- Oh homem, tira lá a navalha que mesmo agora experimentamos.
O relógio era antigo, não tinha ponteiro dos segundos, pelo que mudada a pilha, nada aconteceu.
- Agora temos que esperar, que passem os minutos, e assim se comprova, que já está bom a dar as horas.
Esperámos os minutos que o relógio quis dar, perguntaram-me se o meu marido já tinha chegado a sargento, e pelo meu cunhado de quem são muito amigos.
Esperámos e conversámos porque o tempo é nosso, o tempo somos nós que o fazemos e aqui temos tempo.
E entretanto o relógio avançou.
Adeus e obrigada, até outro dia.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
A balança da pequena merceeira e os clientes judeus
Quando entraram eu estranhei. Andava atarefada, para trás e para diante, ainda a arrumar a loja, depois do fim de semana agitado da Feira.
Fiquei surpreendida porque vestiam os dois roupa escura, chapéu característico, corte de cabelo característico, e barba. Falavam uma língua indecifrável misturada com um simpático inglês e ainda italiano.
Fiquei surpreendida porque vestiam os dois roupa escura, chapéu característico, corte de cabelo característico, e barba. Falavam uma língua indecifrável misturada com um simpático inglês e ainda italiano.
Eram judeus e eu não os devia estranhar, porque esta é uma região de tradição judaica, como atestam as tradições e a sinagoga da vila de Castelo de Vide, as cabeceiras de túmulo do Museu de Marvão ou as ombreiras das portas de Alpalhão.
Mas estranhei porque não é habitual, assim tão visivelmente a rigor, confesso.
Compraram um Guia de Marvão. Depois, ainda, um saco de avelãs. Ao darem a volta à loja, foram encontrar a balança de brincar que eu tenho guardada numa prateleira, para quando a pequena merceeeira me vem "ajudar", nas tardes do fim de semana.
- Is it for sale?
- No, I'm sorry, it's my daughters toy, When she comes to help me here in the store.
- How old is your daugther?
- I have a girl with 8, a boy with 4 and another boy with 2.
Sorriu e disse:
- You must be happy
E foram-se embora, depois do cumprimento de despedida
E a verdade é que sou. Por isso, e por tanto mais.
- Is it for sale?
- No, I'm sorry, it's my daughters toy, When she comes to help me here in the store.
- How old is your daugther?
- I have a girl with 8, a boy with 4 and another boy with 2.
Sorriu e disse:
- You must be happy
E foram-se embora, depois do cumprimento de despedida
E a verdade é que sou. Por isso, e por tanto mais.
sábado, 5 de setembro de 2015
Um Castelo concessionado e uma Câmara Municipal que envergonha
No primeiro semestre de 2013 a Câmara Municipal de Marvão concessionou o seu maior monumento, o seu ex-libris, o Castelo.
Sobre esse processo e a minha opinião sobre o assunto escrevi assim.
Dois anos volvidos, fruto de um trabalho associativo voluntário, a direcção do Centro Cultural de Marvão, concessionária do espaço, vê o seu trabalho reconhecido pelo Município da forma mais baixa, vergonhosa e inqualificável. O que foi escrito na declaração de voto pelo executivo no poder sobre este assunto custa a comentar.
Quanto um executivo camarário trata assim o trabalho associativo e voluntário que é realizado em prol de todos, no monumento que mais nos identifica, nada mais há a dizer.
A política, o poder, os valores que o poder corrompe.
Momentos assim, fazem-me sinceramente perder a esperança nas pessoas e no futuro...
Sobre esse processo e a minha opinião sobre o assunto escrevi assim.
Dois anos volvidos, fruto de um trabalho associativo voluntário, a direcção do Centro Cultural de Marvão, concessionária do espaço, vê o seu trabalho reconhecido pelo Município da forma mais baixa, vergonhosa e inqualificável. O que foi escrito na declaração de voto pelo executivo no poder sobre este assunto custa a comentar.
Quanto um executivo camarário trata assim o trabalho associativo e voluntário que é realizado em prol de todos, no monumento que mais nos identifica, nada mais há a dizer.
A política, o poder, os valores que o poder corrompe.
Momentos assim, fazem-me sinceramente perder a esperança nas pessoas e no futuro...
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
FIMMarvão 2015
Acabou e já tenho saudades. O 2º Festival Internacional de Música de Marvão decorreu ao longo de duas semanas. Mais de 40 espectáculos, exposições, palestras. Muitos visitantes, muito público, sempre.
Um sucesso. Daqueles bem grandes, a provar a todos, que mesmo se tratando de uma terra do interior português, quando as iniciativas têm qualidade, o público aparece.
Cultura, elevação e magia num cenário de sonho. O sonho do nosso maestro.
Agradecer será sempre pouco. A TODOS que estiveram envolvidos, expressos no cansaço notório do Humberto e do Pedro . A TODOS os que estiveram envolvidos, expressos no sorriso sempre constante do Maestro Poppen e da fantástica Julianne.
De notar que à semelhança do ano passado, o Maestro fez questão de convidar toda a população da vila para assistir gratuitamente ao concerto de despedida. Como aqui todos nos conhecemos, fiquei feliz ao verificar que imensa gente aderiu e esteve presente.
Podia colocar aqui uma foto do concerto de ontem, o concerto da despedida, com mais uma vez casa cheia e ainda um sem número de gente espalhada pelas muralhas do 2º pátio do Castelo.
Mozart a dizer: Adeus, até para o ano!
Mas não, escolho a foto que a Núria, fantástica voluntária me mandou para o meu mural.
A minha filha, o meu sobrinho e o pôr do sol visto da muralha, para os lados de Castelo de Vide.
A minha filha marvanense que durante duas semanas ouviu Mozart, Mendelssohn, Strauss, Haydn, Schubert, Kodaly, Mahler, Beethoven, Viana da Mota.
Que a música clássica perdure dentro de todos nós, privilegiados por participar deste evento. Até à terceira edição, até ao próximo verão.
terça-feira, 28 de julho de 2015
Bem visto
- Ai agora o papel higiénico é perfumado?
- Sim, esse é, mas há também do normal, quer que troque?
- Ai menina, não vale a pena, isso serve tudo para o mesmo...
- Sim, esse é, mas há também do normal, quer que troque?
- Ai menina, não vale a pena, isso serve tudo para o mesmo...
(quando há vontade, todos nos entendemos :))
"Holla. I have a question: La posta, quando es abierta?"
(eu sorri, esta turista para fazer uma pergunta falou em três línguas. Eu respondi em português)
- Abre às duas
domingo, 26 de julho de 2015
A música regressou à Ammaia no segundo dia do Festival
Foi opção minha logo quando os bilhetes foram postos à venda
e não me arrependi nada.
Troquei a gala inaugural do Festival de Música pelo primeiro
dos concertos da Ammaia (Estágio Gulbenkian com a maestrina Joana Carneiro)
A presença do Aníbal, da Maria e da sua selecta gorilada
(isto entre seguranças propriamente ditos e demais pápa croquetes) anunciados
apenas um par de dias antes, só veio confirmar o que já tinha inicialmente
previsto. As galas inaugurais são mais show off do que música propriamente
dita. E sim, fiquei contente com o prestigio que a presença do Presidente da
República significou para o evento, pena é tudo o resto que o acompanha.
Hoje, nem a má educação e a boçalidade dos chefinhos locais,
que em vez de servirem de anfitriões chegaram atrasados,quando a música já
soava, me entristeceu. Gente poucachinha não sabe que não se pode chegar tarde
a concertos desta categoria, muito menos incomodar com movimentações quem já
está sentado. Adiante…
Para além disso, eu conheço bem Marvão, sei que as noites no
castelo, mesmo no Verão, são agrestes. Chega a uma hora em que os deuses sopram
ventos frios que levam tudo pela frente.
Já na Aramenha, o verão é morno de dia e de noite, e eu
lembro-me bem, de há uns anos atrás, que quando há música na Ammaia, as cigarras
cantam em festa, as estrelas brilham serenas no céu, e Marvão fica lá ao longe,
no alto, como um barco a bolinar.
Ammaia dos Romanos com música clássica. Casa cheia, bonita
de gente e uma imensidão de jovens e talentosos músicos em palco. E ela, a
maestrina (só o nome é bonito), franzina mas tão imensa, tão segura de si.
Ouviu-se Kodaly e Mahler. Eu
só sei que os olhos se me encheram de lágrimas logo quando tudo começou e
depois mais ao fim, quando a harpa acalmou tudo o resto, apaziguando a alma.
Na fila atrás da minha, o Maestro, a mulher e a filha também assistiam.
Agora lembro-me da primeira vez que escrevi sobre ele, e como mais de dois anos
depois, tudo cresceu de forma tão bonita, e hoje a música e a cultura enchem
novamente Marvão
Ainda só estamos no segundo dia do Festival, e eu já me sinto tão feliz.
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