quarta-feira, 16 de julho de 2014

Despedindo-me da mercearia das manas Sobreiro


Não me pude despedir. Os filhos e o trabalho, o só ter sabido dois dias depois. Despeço-me aqui, despeço-me assim, com gratidão pelo que me ensinaram.
Conheci estas manas na volta da Biblioteca Itinerante. Era a primeira paragem da manhã, na Beirã, e com certeza das mais doces. Não tiravam livros, a cunhada D. Alzira sim, elas não, mas davam-me conversa.
Perguntavam sobre os meus meninos, os meu trabalho. Perguntavam sobre o Pedro e a Cristina, meus amigos. Interessavam-se, acarinhavam-me, naquele início de manhã de cada sábado, à porta da sua linda mercearia.
A mercearia delas é a mais bonita de Marvão. Não é a minha, que eu digo muitas vezes ser a mais bonita. É a delas.
Antiga, com um móvel a preceito, com uma parede cheia de cestos, uma pintura estranha na parede, cheia de histórias de quem viu a Beirã no seu auge e no seu declínio. Está dividida, entre a parte da loja e a da taberna. Com uma grande porta para a rua, num prédio antigo, linda de verdade.
Como explicar que um sítio já quase vazio, onde já quase não se vendia, pudesse estar tão cheio de alma, tão cheio de carinho por toda a gente que ali se chegava.
A Dona Maria, uma das manas Sobreiro já cá não está. Fica a mana Cali, na foto com a minha Isabelinha, também já meio ausente pela doença.
Fica a memória de um sítio bonito onde sempre fui recebida com um sorriso, as memórias das festas de anos na casa do Pedro e da Cris, onde sempre me perguntavam pelo meu negócio, genuinamente contentes por eu estar "a ter sorte".
Um dia queremos lá ir, dizia a Dona Maria.
Quando a vida nos obriga a começar de novo, a dar a volta por cima, a escolher novos caminhos, como me aconteceu a mim há três aos atrás, é preciso sorte para nos cruzarmos com bons exemplos, inspirações genuínas, para aprendermos com quem sabe mais que nós.
É isso que eu me sinto neste post de despedida, reconhecida pelo que as manas Sobreiro me ensinaram.
Para ser uma boa merceeira, o mais importante é receber bem, quem entra à nossa porta.

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