A minha filha mais velha entrou este ano para o ensino secundário. Para quem mora em zonas rurais, normalmente o 10º ano significa o sair da terrinha para ir para a cidade grande, onde se pode completar o liceu. Significa ainda que a turma já não é composta por alunos que residem todos no mesmo concelho para ser composta por alunos provenientes de vários concelhos do distrito.
Esta semana pesquisei sobre o que significa o termo "activos territoriais", na medida em que por vezes há expressões que servindo nos textos políticos ou de investigação, não fazem muito sentido na nossa cabeça. Afinal o que são estes activos? Têm a ver com a comunidade, com as potencialidades ou com a economia de um território?E fiz a ligação entre esta questão dos activos territoriais com uma conversa que tivemos num destes dias à hora do jantar.
Dizia-me a minha filha que tem na turma vários colegas de Arronches. E que estes colegas adoram a sua terra. Enaltecem todos os dias as vantagens da terra onde moram e é aí que se vêem no futuro. Ela não é assim, ou pelo menos não é ainda assim. Sonha com a vida nas grandes cidades e com as grandes oportunidades. Tudo certo, são escolhas.
Comentei com ela que amar a terra onde se nasceu e considerar essa marca inicial para os planos de vida é importante. Porque a nossa terra molda a nossa identidade, aquilo que valorizamos e a forma como mais tarde escolhemos ou não contribuir para a comunidade.
Voltando aos activos territoriais, após pesquisar percebo que ativos são fatores em uso, utilizados na produção de mercadorias ou serviços num determinado território. Já os recursos são fatores a revelar, a desenvolver ou a organizar como potenciais reais. As estratégias de especificação de ativos territoriais podem ser consideradas formas de valorização das vantagens sustentáveis dos territórios, na perspectiva de contribuir para a qualificação de seu processo de desenvolvimento.
Quando pensamos em desenvolvimento territorial visualizamos um processo de mudança continuada, na história , mas integrado em dinâmicas internas e externas, sustentado na potenciação dos recursos e ativos (materiais e imateriais, genéricos e específicos) existentes no local, com vistas à dinamização socioeconômica e à melhoria da qualidade de vida da sua população.
Ora, eu sempre vi Marvão como uma terra de grandes potencialidades, até aqui não lhes tinha dado o nome de activos territoriais, mas que o nome é bonito, de facto é. E são activos variados, na medida em que encontramos os naturais e os patrimoniais. Quando a identidade territorial é forte cabe às comunidades e aos seus governantes usa-las em seu favor, na medida em que:
1. a identidade territorial contribui para a melhorar a transferência intergeracional do saber
2.o sentido de pertença é aglutinador das relações económicas
3. É importante que os agentes económicos tenham uma postura crítica e inovadora, sempre pensando na mudança
4. Para tirar partido dos elementos diferenciadores de um território é indispensável haver planeamento e estratégia política
5. Os activos territoriais e identitários moldam um apego afectivo da comunidade aos valores paisagísticos e culturais.
Quando pensamos no sítio onde vivemos unicamente na perspetiva de aí trabalharmos para ganhar dinheiro, consumimos de forma predatória os recursos naturais, sociais ou culturais. Já quando existe um sentimento de pertença e de ligação, somos mais capazes de gerar um desenvolvimento positivo, solidário e com mais garante de sustentabilidade a longo prazo.
Nada do que envolva sentimentos pode ser forçado, mas neste caso em particular da minha mais velha, já que não se pode forçar então que se eduque e estimule.
No próximo mês, e aos 15 anos, ela vai ter oportunidade de o expressar em público pela primeira vez pois respondeu ao OPEN CALL JOVEM ( 20 anos do I Fórum Marvão)
Seja o que for que escolha dizer, já é um orgulho.