O Nuno costuma dizer muitas vezes que " para que o mal triunfe, basta que os bons não se importem"
E esta frase serve bem para introduzir este post sobre a política local e as eleições que estão próximas.
Claro que é uma frase exagerada, não há "mal" nem deixa de haver, a mensagem que eu quero fazer passar é que não há nada mais conveniente ao poder instalado do que o silêncio das pessoas que têm opiniões. Sobre seja o que for.
Ora a minha opinião sobre a política local está longe de ser "desapaixonada" (calma, eu sei que a palavra não existe), mas é com toda a certeza desinteressada. Seja quem for que ganhe no dia 29 de Setembro, eu não fico melhor nem pior,com toda a certeza não vou ganhar nem perder grande coisa, e sabe quem me conhece pessoalmente, quão foi difícil e penoso, pelo meu percurso profissional, ganhar esta liberdade de expressão. Sabendo à partida que, desta vez, não me vão pesar nos ombros as vitórias e as derrotas, isso não significa que irei ficar calada quando o assunto é importante e nos toca a todos.
E por isso cá vai, escrito e assinado:
O poder instalado tem obra feita, É inegável dize-lo. Deixou a sua marca em oito anos no poder. Fez um ninho de empresas, fez uma mini zona industrial, requalificou-se a Zona da piscina fluvial da Portagem, fez e melhorou acessos rodoviários, comprou terrenos (aqui não sei bem para quê, mas enfim). Teve a belíssima iniciativa de ceder um terreno para a APPACDM construir um lar, criando uma estrutura que vai gerar emprego e dinamismo, salvou o Infantário de fechar. Destaco estes feitos mas há mais, nunca ninguém me ouvirá dizer o contrário, até porque está à vista de todos.
A situação financeira do município é boa (herança que vem de vários presidentes atrás) e o serviço da dívida não é extenso. Mas senhores, qualquer gestor sabe que esses números dependem daquilo que se investe, certo?
E não me venham cá falar de estudos à qualidade de vida e outros que tais, o concelho tem cada vez menos serviços, está cada vez mais desertificado e nascem cada vez menos crianças. É essa a realidade dos números, é isso que interessa, porque os estudos, esses, como tudo, servem interesses, relatam aquilo que interessa relatar.
Na gestão municipal local, honra lhes seja feita, salvam-se as Juntas de Freguesia. Todas as quatro, não distinguindo nenhuma e portanto nenhum partido. Pelo seu serviço de proximidade ao cidadão, pela acção contida e equilibrada, à medida dos seus poderes e do seu orçamento. Porque será que o serviço público é tão mais sem vícios nas freguesias? Terá a ver com salários meramente simbólicos? Cada um que diga o que pensa...
É que ter obra feita, para mim, está longe de ser tudo...
Eu acho que o factor de desenvolvimento (e de sobrevivência) do concelho de Marvão é o Turismo. Claro que todos os outros sectores são importantíssimos e respeito quem considere que a agricultura ou a indústria sejam decisivos, mas na minha opinião, é no Turismo que Marvão se pode diferenciar e progredir.
É por isso mesmo que considero que este executivo nesta área falhou redondamente, aliás, atrevo-me a dizer que teve uma acção MEDÍOCRE!
No Turismo, andou para trás e para diante em manobras com a Candidatura de Marvão a Património Mundial, desconhecendo claramente o processo, desrespeitando o tanto que já estava feito, perdendo a corrida em toda a linha para terras tão próximas e ainda mantendo teimosamente essa bandeira sem saber claramente o que tem em mãos. Mau, muito mau.
No mês de Setembro a Candidatura é apresentada pela enésima vez....Eu no programa colocaria antes RE-re-re-re-re apresentação da Candidatura de Marvão a Património Mundial...Claro, no mês de Setembro, porque é conveniente...mas se ainda existisse em alguém a esperança que "desta é que era" mas enfim, digo e repito que o mais triste de tudo é o desconhecimento por completo do que o processo significa, para onde se vai, como se faz...
E a alienação do nosso maior monumento (intervencionado aliás, com gosto duvidoso) para as mãos de una associação? Enfim...já aqui tive oportunidade de escrever sobre o assunto...
Começaram-se as obras no Museu Municipal, tão necessárias, mas deixámos escapar verão por entre os dedos. São as obras no nosso Portugal, pois sim, pois sim...
Os percursos pedestres, pelos quais já somos conhecidos mas era tão importante sinalizar, manter, mapear, dar a conhecer, divulgar. Onde estão? Porque não se investe, já que até se pode considerar um investimento reduzido?
Na Cultura (que eu associo bastante ao turismo) enfim, é deplorável...O nosso maior evento, a Feira da Castanha, continua imutável, sem dinamismo ou novidade alguma, como que a esperar que a glória do passado perdure e se mantenha, quando todos sabemos que não é assim. Criou-se a Almossassa mas mais uma vez nada se fez por ela, em vez de a fazer crescer enquanto evento novo que é, é vê-a marinar em lume brando e pouco empenhado.
Perdeu-se a Feira do Artesanato e Gastronomia. Esgotou-se o modelo? Está bem, está, digam isso ao Crato, por exemplo,que teve este ano mais de 50 mil visitantes, abandonou-se o modelo, que é mais fácil...
Faz-se uma Boda Régia? Sim, porque os vizinhos espanhois querem. Faz-se um Festival de Juventude? Faz, porque as associações de jovens querem. Para o ano não se sabe, logo se vê
Multiplicam-se, para salvar o quadro, as Semanas Gastronómicas, requerendo pouco trabalho e transferindo a acção/lucro para os restaurantes...
E muitos aspectos de graves falhas e deficiências no departamento cultural se poderiam destacar ,porque eu sei que a cultura não são só as festas mas aí confesso, é mesmo por tristeza pessoal profunda, aliás, é por revolta, que nem toco no assunto.
Depois está algo tão à vista de todos como a obra feita: a ausência do trabalho em equipa. Um líder que na maior parte das vezes nem faz nem deixa fazer, que aparece nos cartazes sozinho, que exclui quem não pensa de forma igual como se de leprosos se tratassem. Que dá ouvidos a boatos e a "diz que disse" e que não olha nos olhos as pessoas com quem fala. Que líder é este? É o líder que merece quem lhe deu o voto, e não foram poucos...
Eu sei que tinha muito mais a ganhar em estar caladinha.O que digo não interessa a muitos nem influencia nada. É um facto.
Eu sei que tenho uma porta aberta e devia ser mais cautelosa. Eu sei bem o que é viver numa terra pequena e como é difícil estar do lado errado.
Mas tenho consciência. Penso. E até ao dia de hoje, não precisei de arranjar desculpas para ficar calada...
A questão é que, digo e volto a dizer, eu de momento não tenho lado. Cresci com os meus próprios erros, desiludi-me com a política em geral. Com este texto, eu não venho apelar ao voto em A,B ou C, porque sinceramente, eu não sei se outros no mesmo lugar seriam melhores, mais justos, mais equilibrados...
Mas o sangue ferve-me quando vejo o Dia do Empresário que normalmente era comemorado em Maio passar para o início de Setembro. Fico espantada ao ver anunciado para Setembro também, what else, o leilão de terrenos que estiverem vários anos parados...Enervo-me quando vejo chegar o cartaz da Festa do Idoso com data de 15 de Setembro quando há uma data mundial para essa efeméride que é 1 de Outubro...
Eu queria governantes que trabalhassem para TODOS os seus munícipes sem exceção, e não em proveito próprio ou dos seus apaniguados. Eu queria não ter sido afastada do meu interior emprego por "falta de verbas" mas ver entrar para o quadro pessoas que lá estavam há menos tempo mas pertenciam ao círculo certo (como o actual vice-presidente, só para dar um exemplo). Eu queria ter assumido o concurso público que concluí em primeiro lugar, mas em vez disso anularam-no só porque fui eu que o ganhei.
Eu queria tanta coisa.
Queria principalmente ter esperança que tomei a decisão certa ao ficar.
Que acertei quando escolhi esta terra para os meus filhos nascerem.
Queria sentir-me menos sozinha no relacionamento, tão necessário, com o poder. É que ter a consciência tranquila, como eu sempre tive, ou a razão (se é que ela existe) do meu lado, não chega...
Mas tudo isto, na minha terra e no meu país é impossível.
É mesmo impossível...